Cinema & Psicanálise

"Ilhados com a Sogra"

Olá, pessoal! Hoje, gostaria de compartilhar minhas reflexões sobre a série "Ilhados com a Sogra" da Netflix, sob a perspectiva da psicanálise. Embora eu nunca tenha sido um grande fã de reality shows, decidi assistir a esta série por recomendação e fiquei intrigado com a maneira como ela aborda o tema do convívio com sogras, algo que é conhecido por muitos como um terreno potencialmente turbulento.

Apresentação da série:

"Ilhados com a Sogra" é uma série da Netflix apresentada por Fernanda Souza, que mergulha em uma competição peculiar entre seis casais em uma ilha paradisíaca. Inicialmente, os casais acreditam que competirão uns contra os outros, mas a reviravolta acontece quando as sogras são introduzidas na competição, criando situações tanto cômicas quanto desafiadoras. O formato inovador, que envolve genros e noras competindo ao lado de suas sogras, por um prêmio de R$ 500.000, tem atraído a atenção de muitos espectadores.

Aspectos interessantes:

A série explora a dinâmica familiar e as tensões entre genros, noras e sogras de maneira divertida e envolvente. O estereótipo da "sogra difícil" é uma narrativa comum em muitas culturas, e a série brinca com essa ideia ao colocar os participantes em situações desafiadoras com suas sogras.

Com um elenco bem escolhido, "Ilhados com a Sogra" equilibra habilmente elementos de drama e comédia, permitindo ao público refletir sobre as relações humanas que podem ser construídas ou desfeitas através da interação com as sogras.

A série oferece a oportunidade de refletir sobre as complexidades das relações familiares e humanas, destacando como falhas na comunicação, julgamentos equivocados e até mesmo tensões ocultas podem afetar essas relações. Ao mesmo tempo, proporciona um entretenimento leve e descontraído, onde os dramas familiares se transformam em combustível para o entretenimento.

Elementos culturais:

É interessante notar que em muitas culturas, as sogras são tradicionalmente consideradas figuras de autoridade na família. Elas podem ter expectativas específicas em relação ao comportamento e às responsabilidades de suas noras ou genros, o que pode levar a conflitos quando essas expectativas não são atendidas.

Além disso, as diferenças geracionais entre sogras, noras e genros frequentemente geram desafios, especialmente quando se trata de valores, crenças e expectativas divergentes. O conflito de papéis também é comum, onde sogras e noras ou genros podem se sentir ameaçados pelos papéis uns dos outros na vida do cônjuge ou filho.

Mudanças sociais ao longo do tempo podem complicar ainda mais as relações entre sogras e genros, à medida que normas culturais antigas entram em conflito com expectativas modernas.

A comunicação deficiente muitas vezes contribui para esses conflitos, com mal-entendidos, falta de clareza nas expectativas e habilidades de comunicação inadequadas exacerbando as tensões.

Psicanálise:

Agora, vamos explorar o que a psicanálise tem a dizer sobre esse conflito e o mito da "sogra difícil", que é uma narrativa comum em muitas culturas. Freud, em sua obra "Totem e Tabu", já observava a existência de conflitos em povos primitivos relacionados a essa dinâmica. Ele aborda apenas o dualismo entre genro e sogra.

Freud sugere que as restrições nas relações entre genros e sogras em várias culturas podem servir como medidas de prevenção contra o incesto. Em algumas culturas, regras estritas proíbem a interação entre genros e sogras, com punições severas para as violações dessas regras. Ele sugere que essas proibições podem derivar da tentativa de evitar a tentação incestuosa, que pode ser um aspecto inconsciente dessas relações.

A psicanálise também aborda a ideia de que sentimentos incestuosos podem ser uma característica infantil que persiste em adultos. O medo do incesto é considerado uma preocupação legítima que pode justificar as proibições culturais nas relações entre sogras e genros.

Além disso, é importante notar que na adolescência, o sujeito passa por uma troca de objeto de amor, deixando a mãe para se relacionar com um parceiro, e isso pode gerar complicações, às vezes envolvendo mães que têm dificuldades em deixar seus filhos vivenciarem sua individualidade.

É crucial lembrar que o conflito com sogras não é uma universalidade, e muitas pessoas têm relacionamentos saudáveis e harmoniosos com suas sogras. Quando os conflitos surgem, a comunicação aberta, a empatia e o respeito mútuo podem ser ferramentas valiosas para resolvê-los e melhorar os relacionamentos familiares.

Espero que tenham gostado das reflexões sobre "Ilhados com a Sogra". Lembrem-se de que as relações familiares são complexas e multifacetadas, e a compreensão mútua pode ser a chave para um convívio mais harmonioso com nossas queridas sogras.

Até a próxima!

Adélia Tabaczinski